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Adeus, Mãe Beata!

Adeus, Mãe Beata!

Editorial - Sábado, 27 de Maio de 2017 - Por: Editorial

No sábado 27 de maio de 2017, tivemos a tristeza de perder a companhia da nossa querida ialorixá e guerreira, Mãe Beata de Yemonja.

Nascida em 1931 em Cachoeira de Paraguaçu (BA), bisneta de um nigeriano escravizado e sobrinha do babalorixá Anísio de Logum Edé, Beatriz Moreira da Costa (Beata, como era chamada) foi iniciada no candomblé, como filha de Iemanjá, por Mãe Olga de Alaketo.

Na década de 1960, Beata mudou-se para o Rio de Janeiro com seus filhos carnais. Foi empregada doméstica, artesã, esteticista, figurante de TV e costureira, atividade em que se aposentou. Paralelamente, continuou se dedicando à religião dos orixás, e, na década de 1980, fundou seu próprio terreiro, o Ilê Omiojuaro (Casa das Águas dos Olhos de Oxóssi), no município de Nova Iguaçu (RJ).

Além de trabalhar pela valorização das tradições religiosas de raiz africana, Mãe Beata batalhou pelos direitos das mulheres (em especial as mulheres negras) e de todo o povo afro-brasileiro, e pelo respeito à diversidade cultural e religiosa. Militou em movimentos sociais; foi presidente da Ong Criola e integrou o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, o Projeto Ató Ire (Saúde dos Terreiros) e a Ong Viva Rio.

Graças aos projetos sociais e educativos promovidos por Mãe Beata, o Ilê Omiojuaro, em 2015, recebeu o prêmio de Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Apesar de ter estudado apenas até o terceiro ano do primário, Mãe Beata, além de publicar alguns artigos, escreveu dois livros com os contos que preservam o saber ancestral transmitido oralmente nos terreiros: Caroço de dendê (publicado pela Pallas em 1997) e História que a minha avó contava (de 2004).

Apesar da tristeza que sua passagem causou, temos o consolo de ter tido o privilégio de conviver com seus 86 anos de sabedoria. E, embora o Aiê chore, sabemos que hoje o Orum está em festa por ter recebido essa grande ancestral que de lá estará sempre olhando por nós.

Adeus e bem-vinda, Mãe Beata!

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