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13 de maio, muito a pensar

13 de maio, muito a pensar

Autores - Terça-feira, 12 de Maio de 2015 - Por: Eneida D. Gaspar

O treze de maio é uma das datas mais importantes da história do Brasil: é o dia em que, no ano de 1888, os africanos e seus descendentes foram libertados da condição de escravidão. E mais: o trabalho escravo se tornou ilegal no país. Mas o problema não acabou ali. A herança escravagista brasileira sobrevive na discriminação contra os afrodescendentes e no trabalho escravo moderno. Vamos falar um pouco deste último.

De acordo com o documento "Trabalho escravo no Brasil em retrospectiva" (disponível em <http://portal.mte.gov.br/trab_escravo/>), durante o século 20 continuou existindo trabalho escravo (ou análogo) na cidade e no campo. A escravidão rural existe em propriedades em que o trabalhador agrícola, expulso da sua terra, trabalha sem nenhum direito trabalhista e é escravizado por meio de dívidas que é forçado a contrair com a empresa que o contrata.

A escravidão urbana atinge basicamente migrantes de outras regiões do país ou de países próximos, voluntários (muitas vezes ilegais) ou vítimas de tráfico humano, que também são submetidos ao regime de endividamento forçado e têm seus documentos subtraídos. Esse tipo de escravidão ocorre em algumas indústrias, como a têxtil e a de construção. Mas nós a conhecemos no cotidiano (pelo menos dos mais velhos) sob outra forma: a criança que a família da cidade pegava lá na roça e trazia "para criar". Na realidade, aquela criança iria ser, quase sempre, uma empregada doméstica sem remuneração e sem direitos trabalhistas. Uma escrava.

Até hoje, o trabalho doméstico, no Brasil, é uma fronteira obscura entre os trabalhos escravo e regulamentado. Será que é natural que pessoas física e mentalmente capazes ponham outras pessoas para realizarem as tarefas básicas da sua sobrevivência? Será que o trabalho manual/ braçal é indigno? E se for, por que algumas pessoas só conseguem trabalhar assim? Devo ficar orgulhosa por dar trabalho doméstico a uma pessoa que não pode fazer outra coisa? Ou devo buscar formas de me engajar na luta para que todos tenham a escolaridade e a formação que lhes permitam escolher qualquer trabalho que queiram?

Temos muito a refletir no dia 13 de maio.

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